A religião governava todas as instituições da Grécia e Roma antigas, que vão desde a família ao direito de herança. Foi a religião que “extendeu a família e formou a cidade”. Mas essa religião pesava sobre a cidade e a família a obrigação de certos ritos que deveriam ser observados em sacrifícios, funerais, cerimônias de casamento e outras atividades diárias, e essas obrigações diárias se tornaram um fardo que durou por séculos e pode apenas ter sido apagado com o triunfo do cristianismo.
Um motivo provável para todos os rituais que os antigos tiveram que observar nos funerais, por exemplo, encontra-se na sua crença de que o falecido continuava a viver de alguma forma depois de enterrado. Se o que eles estavam enterrando deveria viver debaixo da terra, então não só a cerimônia de sepultamento em si tinha de ser realizada “com muito cuidado e precisão”, como observou Virgílio, mas a rotina dos que sobreviviam também teria que mudar para que os mortos vivessem uma vida feliz em seus túmulos. No final de uma cerimónia fúnebre, os vivos chamavam o falecido três vezes pelo seu nome, e três vezes se despediam desejando também que a terra fosse leve sobre o morto.
Roupas, utensílios e armas também eram colocados nos túmulos com os entes queridos no caso de serem necessários a eles ao longo de sua nova caminhada. Os antigos acreditavam tão firmemente que os mortos continuavam a viver que sacrificavam cavalos e, às vezes, até mesmo escravos e enterravam-nos com os mortos para servi-los em seus túmulos. O sacrifício de escravos ou cavalos levava muito tempo. Certamente eles tinham que estar preparados, se não limpos, antes de serem colocados no sepulcro. O tempo que isso levava será estabelecido por esse estudo.
A alma só podia ter a sua morada em seu próprio túmulo. Por isso funerais eram tão comuns nos tempos antigos, como o são hoje. Funerais em si, hoje em dia levam pouco tempo. As covas são cavadas antes que o caixão chegue e os coveiros são experientes o suficiente para agirem o mais rápido possível para que a cerimônia seja também a mais rápida possível. Esse não era o caso para os antigos. Como de Coulanges observa, “colocar o corpo na cova não era suficiente. Determinados ritos tradicionais tiveram também de ser observados, e certas fórmulas estabelecidas deveriam ser pronunciadas”. Isso fortalece o argumento de que os funerais eram cerimônias longas com muitos detalhes específicos que deveriam ser observados e executados, em contraste com o nosso hábito moderno de ficar algum tempo em um velório para velar o morto, ao invés de fazer qualquer coisa com ele ou para ele. Claro que temos as roupas e as flores no corpo do falecido, mas não como parte de obrigação religiosa.
Os túmulos tinham uma espécie de cozinha na frente para a imolação das vítimas e a preparação de sua carne. Esses locais tinham que ser construídos antes da cerimônia, de modo que os sacrifícios fossem realizados a medida em que os funerais aconteciam. É difícil acreditar que havia funerárias naquela época. Os familiares provavelmente iriam querer fazer todo o serviço acreditando que suas obrigações religiosas implicavam o seu trabalho desde o início até o fim. E não só isso, mas o cuidado com a alma dos entes queridos após a cerimônia do enterro também era parte de um todo. A construção desses locais podia levar algum tempo, pois entendia-se que quanto melhor o serviço mais felizes os mortos ficariam. O receio de que a alma do falecido pudesse seguir infeliz garantia que o serviço fosse realizado “com cuidado e precisão”, e cuidado e precisão levam tempo.
Esses costumes funerários foram amplamente aceitos e praticados na Antiguidade, mas eram certamente inúteis para alguns. Luciano (De Luctu) ridicularizou-os. Seu comentário pode implicar que essas cerimônias eram não apenas inúteis, mas que elas também consumiam muito tempo para valer a pena. De Coulanges também ridicularizou esses rituais chamando-os de “formas muito antigas de crença, e completamente infundadas e ridículas”. Mas ele reconheceu que eles “exerceram um império sobre o homem durante várias gerações. Governaram a mente dos homens; governaram até sociedades, e que a maior parte das instituições domésticas e sociais dos antigos era derivada desta fonte”.
Fonte: A cidade antiga, de Fustel de Coulanges
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