por José Ariovaldo da Silva, ofm
á consideramos, nesta revista, três elementos simbólicos fundamentais de um espaço litúrgico:
- o altar (cf. Mundo e Missão n.º 85, setembro 2004, p. n.º 31-35; n.º 87, novembro 2004, p. n.º 34-35; n.º 89, janeiro/fevereiro 2005, p. n.º 34-35), a mesa da Palavra (cf. Mundo e Missão n.º 90, março 2005, p. n.º 34-35) e o espaço da assembléia (cf. Mundo e Missão n.º 91, abril 2005, p. n.º 34-35).
Falta um quarto elemento: a cadeira da presidência litúrgica. Trata-se de um dado simbólico importante, pois evoca a presença de Cristo como aquele que, na verdade, preside a assembléia litúrgica na pessoa do sacerdote celebrante. Foi a partir do Concílio Vaticano II que a Igreja resgatou o sentido e valor litúrgico da cadeira da presidência, esquecido por muitos e muitos séculos. Tanto que se prevê até mesmo uma bênção especial para a mesma, quando colocada na igreja para uso litúrgico permanente.
No centro do presbitério, notamos a cadeira da presidência litúrgica que se
distingue das demais cadeiras usadas por outros ministros
A Instrução Geral sobre o Missal Romano, n.º 310, ordena o seguinte, a respeito deste lugar especial do espaço litúrgico:
“A cadeira do sacerdote celebrante deve manifestar a sua função de presidir a assembléia e dirigir a oração. Por isso, o seu lugar mais apropriado é de frente para o povo no fundo do presbitério, a não ser que a estrutura do edifício sagrado ou outras circunstâncias o impeçam, por exemplo, se a demasiada distância torna difícil a comunicação entre o sacerdote e a assembléia, ou se o tabernáculo ocupar o centro do presbitério, atrás do altar. Evite-se toda espécie de trono. Antes de ser destinada ao uso litúrgico, convém que se faça a bênção da cadeira da presidência segundo o rito descrito no Ritual Romano”.
Como se vê, usam-se as expressões “cadeira do sacerdote celebrante” ou “cadeira da presidência”. Trata-se de uma cadeira especial e própria para a função de quem, na pessoa de Cristo, preside a celebração eucarística, isto é, para o “sacerdote celebrante”. Uma cadeira que se distingue das outras usadas pelos outros ministros. Mas também, como ordena a Instrução, não se chegue ao exagero de transformá-la numa espécie de trono, pois a presidência é antes de tudo um “serviço”. Significativos são os textos próprios para o rito de bênção da cadeira da presidência.
Por exemplo, sugere-se, como exortação inicial, o seguinte:
“Hoje esta nova cadeira vai ser entregue, pela primeira vez, ao uso litúrgico. Amados irmãos, louvemos a Deus nosso Senhor, que se digna estar presente em seus ministros, dedicados aos deveres sagrados, por meio deles ensinando, governando e santificando os fiéis; e peçamos a Ele que faça sempre mais dignos os que exercem tão santas funções” (Ritual de bênçãos, n.º 885).
No fundo, é a figura divina de Cristo Senhor na sua tríplice função de sacerdote, mestre (profeta) e pastor, que está sendo evocado. E a cadeira da presidência litúrgica, bem distinta e situada no espaço da celebração, nos faz sentir melhor, a presença viva deste Cristo na pessoa do sacerdote celebrante. Também a oração de bênção da cadeira da presidência deixa entrever o sentido teológico-litúrgico e espiritual que ela (a cadeira) deve evocar.
Diz a oração:
“Louvamos a uma só voz, Senhor, o vosso nome e humildemente vos suplicamos: como bom Pastor, que viestes para reunir, num só rebanho, vossas ovelhas dispersas, com a cooperação daqueles que escolhestes, dai o alimento da verdade aos vossos fiéis, e conduzi-os com segurança, para que, um dia, ovelhas e pastores, mereçam ser, com alegria, recebidos na habitação eterna. Vós que viveis e reinais para sempre” – “Amém” (cf. ibid., n.º 890). Sugestivas são também as “preces” propostas por ocasião da bênção da cadeira da presidência.
Inicialmente, quem preside motiva e convida dizendo:
“O Senhor nosso Jesus Cristo ama tanto a sua Igreja que a faz perseverar no caminho da salvação, por seus ministros e pastores, instruindo-os com a palavra divina e alimentando-a com os mistérios sagrados. Elevemos a ele os nossos louvores, e lhe digamos”.
Ao que toda a assembléia aclama:
"A cadeira do sacerdote celebrante deve manifestar a sua função de presidir a assembléia e dirigir a oração"
“Nós vos damos graças, Senhor!”.
Então vêm três “intenções” em forma de “benditos”, a cada uma das quais a assembléia aclama sempre de novo:
“Nós vos damos graças, Senhor!”.
São elas:
“Bendito sois, Senhor, por não cessardes de nos ensinar o vosso Evangelho mediante os mestres da fé” – “Bendito sois, Senhor, por nos alimentardes, sempre, e sustentardes, a nós, ovelhas do vosso rebanho, através dos pastores que escolhestes” – “Bendito sois, Senhor, por nos chamardes e exortardes a cantar os louvores do Pai, mediante os vossos arautos” (cf. ibid. n.º 896).
A oração conclusiva destas “preces” retoma, de outra forma, a teologia que a cadeira da presidência evoca:
“Senhor Jesus Cristo, que ensinastes os pastores da Igreja procurar servir os irmãos e não serem servidos, concedei aos que ocupam esta cadeira proclamarem com ardor a vossa palavra, celebrarem dignamente os vossos mistérios, a fim de que, juntamente com o povo a eles confiado, vos dêem louvor sem fim na eterna mansão. Vós que viveis e reinais para sempre” – “Amém” (cf. ibid., n.º 897).
Portanto, o presidir é antes de tudo um “serviço” à assembléia reunida, que vem do Servo de todos, Jesus Cristo. Daí a conseqüência prática de toda esta teologia resgatada a partir do Concílio Vaticano II. A saber: para visualizar o mistério da presidência de Cristo na pessoa do ministro (cf. SC 14), a Igreja recomenda que se coloque em destaque a cadeira de quem preside.
Como vimos pela nova Instrução Geral sobre o Missal Romano:
“A cadeira do sacerdote celebrante deve manifestar a sua função de presidir a assembléia e dirigir a oração”, pois, como já insistimos, a cadeira presidencial em destaque evoca a presença invisível do Cristo que preside a Liturgia na pessoa do ministro. Graças a Deus, hoje muitíssimas comunidades já têm consciência deste detalhe de sua vida litúrgica.
Colocam em suas igrejas a cadeira da presidência com certo destaque, e até mesmo com bom gosto artístico, e, assim, podem celebrar a Liturgia de maneira mais plena, consciente e ativa. Outras estão em vias de aperfeiçoamento. Oxalá, um dia todas possam melhor sentir o Cristo invisível (mestre, sacerdote e pastor) na pessoa de quem preside a Liturgia, também pelo destaque que é dado à cadeira que ocupa.
www.pime.org.br/mundoemissao/teologiacadeira.htm
domingo, 18 de julho de 2010
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